segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

As maçãs do Éden




 

 

O ser humano é dogmático. Em qualquer esfera, gostamos de dogmas e verdades estabelecidas. Isto nos traz segurança e conforto. Na TV sempre aparece algum artista ou celebridade comentando sobre a vida pública. E para senso comum, pessoas que estão dispostas a ter vida pública não podem se queixar de perder a privacidade por causa da fama. Será? Na mídia existe o mito que de que quando alguém se expõe tem que se sujeitar passivamente a reação das pessoas. Sério? Quem estabeleceu estas verdades?
 
Desmaterialização da arte:
Os artistas contemporâneos costumam derrubar este tipo de conclusão a golpes de martelo, abrindo espaço para questionamentos. John Cage, criou uma partitura, o trabalho 4’33″, instruindo o músico a ficar em silêncio e imóvel durante o tempo estipulado no título da obra. Em 1967, o norte americano Sol LeWitt publica “Parágrafos sobre Arte conceitual, onde atesta que a idéia é mais importante que a realização do trabalho. Enquanto isso, no Brasil , Helio Oiticica divulga no Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro, um texto onde começa a surgir a noção de uma “arte desmaterializada”, onde o público, é o motor da obra e assume com sua negação à passividade uma posição crítica na dimensão ética e política. Falando a grosso modo: é o público que define o que será a obra de arte: uma partitura, uma obra de arte visual, um texto poético, ou outra proposta.
No mundinho gospel prevalece a mentalidade dogmática. Somos criados com ela e nos moldamos a ela. Somos ensinados a reafirmar dogmas. Não, as igrejas não ensinam a pensar, e embora o Criador nos tenha dado uma máquina de raciocinar fantástica, não há encorajamento para aqueles que se atrevem a levantar questionamentos. Elas funcionam em sua grande maioria como curso de memorização, de modo que você consegue encontrar vários cristãos que conseguem decorar enormes textos bíblicos, mas não conseguem aplicar aquelas verdades ao seu dia a dia. Nada contra memorizar textos, pelo contrário, seria lindo um momento de salmos onde os irmãos declamariam e interpretariam os salmos bíblicos e os que tem veia poética mais apurada poderiam criar seus salmos e jorrar palavra poética numa noite inesquecível, uma noite na varanda com amigos, simples, como as reuniões apostólicas da igreja primitiva. Memorizar não é um problema, é uma necessidade, mas é problema quando a palavra está na língua mas não está no coração.

Precisamos de discipuladores que lancem desafios na aula, como Jesus fazia. Jesus criava problemas e deixava os discípulos sem respostas por muito tempo para que tivessem tempo de meditar na palavra. Jesus exercia a função de provocador. O bom pastor alimentava as ovelhas como ninguém, mas não mastigava o alimento para elas.
Evangelho para consumo:
 o Evangelho está á venda. Para vender algo é preciso seduzir e agradar o consumidor, não podemos chocá-lo, provocá-lo, questioná-lo, fazê-lo pensar ou dar-lhe informações novas que o perturbem. Devemos dar-lhe mais do mesmo. O igual, com nova roupagem. O dogma é perfeito para isso, ele não assusta, não muda nada, não altera nada. Gostamos das coisas como são e queremos que tudo termine bem no final, como nas novelas e comédias românticas. Tudo já vem pronto e embalado para consumo. Só nos resta consumir. Tudo precisa ser reduzido aos padrões já estabelecidos, para não abalar nossas crenças e nossa confiança na realidade. Na mentalidade dogmática, verdadeiro e bom é o que não surpreende: é oque já se sabe, oque já se disse, oque já se fez. Mas no lugar de difundir e divulgar o Evangelho ou a cultura cristã, despertando interesse, isto torna o evangelho próprio para consumo, mas não o torna mais conhecido por isto.
Claro, todos temos dogmas de fé. Há uma verdade que é Cristo. Mas a cultura da pedrada e a cultura do escárnio fazem parte do discurso de Jesus? Um dos um dos problemas do cristianismo atual é exatamente achar que há apenas uma doutrina válida, é querer mandar fogo do céu a quem pensa diferente. Temos arminianos, calvinistas, luteranos, reformados, pentecostais, neopentecostais, todos com suas pedras na mão afirmando serem os donos da verdade. Oque me lembra o romance de Umberto Eco, O nome da rosa. No livro, os monges morrem misteriosamente e todos com o mesmo sinal: a língua negra e dois dedos da mão direita cheios de veneno. O monge investigador descobre que as vítimas encontraram uma obra perdida de Aristóteles sobre a comédia e a importância do riso para a vida humana. Descobre também que o monge guardião da biblioteca julgara que o riso era pecado, pois em sua concepção religiosa, o homem estava na terra para pagar o pecado de Adão, portanto, alegria era blasfêmia. E por este motivo, assassinou por envenenamento os copistas que ousaram ler o livro e incendiou a biblioteca. Por esta “verdade”, o monge copista matou seres humanos e destruiu livros, pois para ele, a verdade revelada por Deus é a única que importa.
As maçãs do Éden - Quando observo as igrejas e a forma como passam a informação, me lembro de um episódio ocorrido lá no jardim do Éden, onde um homem ouviu uma revelação de Deus, e transmitiu a mensagem dogmaticamente para outra pessoa. A fim de que ela não se desviasse do conteúdo original da mensagem,acrescentou umas palavrinhas. Mas este excesso de zelo e de dogma não a fez meditar naquela realidade, para que aquele ensino fosse regado pelo Espírito Santo e criasse raízes. Quando veio a serpente, então a serpente a fez pensar. E assim o homem oficializou o dogma, acreditando que fazer pensar é um perigo. Criamos as “maçãs do Éden”. De onde surgiu a “maçã” ninguém sabe, não está no texto, mas também não se pode questionar. Séculos depois, continuamos cultivando maçãs.
Terapia divina: Ignoramos a didática de Jesus, ignoramos que Deus ensinou Jó a questionar, (sem apresentar respostas). Porque aprendemos que o tema central do livro de Jó é “porque o justo sofre?” ao invés de”a importância do questionamento”? Nossa capacidade dogmática se rompe quando começamos a levantar questionamentos, este foi o tratamento de Deus para Jó: sincero, reto e temente a Deus, Jó não conhecia o criador, mas tinha dogmas que seguia à risca. Deus curou Jó de seus dogmas para restaurar sua vida. Assim as pessoas hoje estão vivendo. Acreditam que é pecado questionar a Deus, ou as instituições e pessoas que “falam em nome de Deus”. Mas por não aprenderem a questionar também não aprendem a questionar os rudimentos e sofismas deste mundo e caem na conversa da serpente geração após geração.
Enquanto isso, o Todo-Poderoso continua dizendo: “Vinde e arrazoemos”.
Que Deus quebre nossos dogmas e fortaleça nossa fé.
,
Lya Alves.
 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Quatro razões básicas para a rejeição da doutrina da perda da salvação

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O ensino bíblico que afirma que o crente não perde a salvação é chamado tecnicamente de doutrina da perseverança dos santos. Trata-se de um dos temas principais defendidos pelo Calvinismo. Essa doutrina teve como maior oponente dentro do Protestantismo o sistema idealizado pelo teólogo holandês Jacó Armínio (1560-1609). Entre outras coisas, o Arminianismo nega a fórmula “uma vez salvo, salvo para sempre”. Ainda que esse modelo tenha sido condenado pelo Sínodo de Dort (1618-1619), muitas igrejas evangélicas modernas o adotam, sendo possível encontrar seus expoentes entre batistas, assembleianos (principalmente) e presbiterianos (surpreendentemente).

Há pelo menos quatro razões básicas para rejeitar a doutrina da perda da salvação:

1. A salvação abrange uma seqüência de ações de Deus que começa na eternidade passada e se conclui com a glorificação perene no futuro (Rm 8.29-30)

Considerando a soberania e o poder de Deus, essa seqüência não pode ser frustrada ou interrompida. De fato, na referência acima vê-se que a corrente da salvação mostra seu elo inicial quando Deus conhece de antemão e predestina aqueles a quem decide alcançar. Em seguida, ele chama e justifica essas pessoas, glorificando-as finalmente. Evidentemente, não há como quebrar esse processo, estando a salvação garantida, inclusive, pelo selo do Espírito

(Ef 1.13-14). Ademais, é absurdo conceber o Deus da Bíblia como um ser incapaz, que predestina alguém para salvar, chama-o e o justifica, mas no fim não consegue glorificá-lo.

2. A salvação implica “novo nascimento”

Jesus ensinou que o homem salvo é aquele que nasceu de novo pela fé nele, podendo agora ver o Reino celeste (Jo 3.3). Sabe-se também que quem nasce de novo se torna filho de Deus (Jo 1.12-13; 1Jo 5.1). Evidentemente, para perder essas bênçãos, o crente teria que “desnascer”. E mais: se quisesse recuperá-las teria de nascer de novo de novo. Ora, essas possibilidades não existem nas Escrituras. Nascer de novo ou ser regenerado, tornando-se filho de Deus, é experiência única e, infalivelmente, resulta na salvação do crente (Gl 3.26-29).

3. A salvação não pode ser atribuída a pessoas que professaram temporariamente a fé

Várias passagens bíblicas falam de pessoas que, participando da comunhão dos crentes, testemunharam e até experimentaram bênçãos maravilhosas, caindo, em seguida, na apostasia (Hb 6.4-6). Não é correto, porém, dizer que essas pessoas perderam a salvação. Na verdade, elas nunca foram salvas (1Jo 2.19). Isso é evidente porque aprendemos na Parábola do Semeador que a prova da fé salvadora é a perseverança (Mt 13.1-23). Quem não persevera nunca foi de fato salvo (1Ts 5.23-24; Hb 10.39; 1Pe 5.10; 1Jo 5.4-5).

4. A salvação não pode ser anulada pelo pecado individual do crente

Em 1Coríntios 5.1-5, Paulo fala de um crente que tinha envolvimento sexual com a mulher do próprio pai. Era um pecado tão grave que ele diz não ser comum nem mesmo entre os pagãos (v.1), devendo esse homem ser “entregue a Satanás” (v. 5), o que significa ser expulso da igreja (v.13). Isso, porém, não fez com que ele perdesse a salvação. Na verdade, Paulo diz que a disciplina poderia trazer a destruição do corpo, mas que o espírito daquele homem seria salvo (v.5). Ademais, em 1João 2.1, aprendemos que se algum crente pecar, isso não gera sua condenação eterna, mas sim sua defesa, feita por um “Advogado junto ao Pai: Jesus Cristo, o justo”.

Essas são apenas algumas razões pelas quais devemos rejeitar a doutrina da perda da salvação. Outros textos que falam da segurança do crente são João 10.28-29; Romanos 8.33-34; 1Coríntios 3.15 e Hebreus 7.25.


Pr. Marcos Granconato

Fonte: Igreja Redenção
Via: Teologia & Apologética